A FLORESTA EM CEDOFEITA
Foram estas as ruas que se ergueram
para nós, mal desenhadas, velozes sob o fardo
dos nossos adereços: símbolos de pano,
mortalhas, música ligeira com muitos violinos
e um coro de mulheres. Mas o movimento
rasa apenas a superfície das coisas, é a malha
onde prendemos os olhos, uma espécie de venda.
A floresta que conduzia à igreja está debaixo
do cimento – não a ouves respirar? Tudo o que cresce
sobre a terra tem a mesma vocação, as casas, o passado,
o corpo em todo o caso: qualquer coisa o segura
desde o princípio. E as praças que estiveram
ao fundo da noite uma vez
é para onde caminhamos a vida inteira.
MARLBOROUGH DRIVE
Se pudermos estar felizes não será mais bela
a voz do trompetista de Oklahoma? Oh, there’s
a lull in my life. Sim, o amor é triste e o mundo
é árduo e nunca nos serviu como convinha. Mas
nas cercanias da vila, no Volkswagen em segunda
mão, vê como resplandecem os vidros de Marlborough
Drive ao entardecer! Uma ambição sentimental
à nossa pequena escala, prados entre castanheiros,
duas onças de tabaco de enrolar. Que importa
que tudo rode para um fim e que a nossa verdadeira
condição seja morrer um pouco mais a cada instante?
A pele reconhece estas canções, sabe que é Junho,
conhece a estrada que devemos escolher. A pele
é sábia. Por uma vez, que valha a pena morrer.
Rui Pires Cabral