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Out 08

A FLORESTA EM CEDOFEITA

 

Foram estas as ruas que se ergueram

para nós, mal desenhadas, velozes sob o fardo

dos nossos adereços: símbolos de pano,

mortalhas, música ligeira com muitos violinos

e um coro de mulheres. Mas o movimento

rasa apenas a superfície das coisas, é a malha

onde prendemos os olhos, uma espécie de venda.

 

A floresta que conduzia à igreja está debaixo

do cimento – não a ouves respirar? Tudo o que cresce

sobre a terra tem a mesma vocação, as casas, o passado,

o corpo em todo o caso: qualquer coisa o segura

desde o princípio. E as praças que estiveram

ao fundo da noite uma vez

é para onde caminhamos a vida inteira.

 

 

MARLBOROUGH DRIVE

 

Se pudermos estar felizes não será mais bela

a voz do trompetista de Oklahoma? Oh, there’s

a lull in my life. Sim, o amor é triste e o mundo

é árduo e nunca nos serviu como convinha. Mas

nas cercanias da vila, no Volkswagen em segunda

mão, vê como resplandecem os vidros de Marlborough

Drive ao entardecer! Uma ambição sentimental

 

à nossa pequena escala, prados entre castanheiros,

duas onças de tabaco de enrolar. Que importa

que tudo rode para um fim e que a nossa verdadeira

condição seja morrer um pouco mais a cada instante?

A pele reconhece estas canções, sabe que é Junho,

conhece a estrada que devemos escolher. A pele

é sábia. Por uma vez, que valha a pena morrer.

 

Rui Pires Cabral

 

 

postado pelo Casa dos Poetas às 15:05
Canção:: The gift - Five Minutes of Everything
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