As intermitências da morte, romance de José Saramago, está a ser um sucesso lá fora. Prova disso é a crítica no prestigiado jornal The New Yorker. Em jeito de homenagem, deixamos um poema de José Saramago, faceta menos conhecida do Nobel português.
Intimidade
No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
José Saramago