04
Dez 08

EU SEI, NÃO TE CONHEÇO MAS EXISTES

 

Eu sei, não te conheço mas existes.

por isso os deuses não existem,

a solidão não existe

e apenas me dói a tua ausência

como uma fogueira

ou um grito.

 

Não me perguntes como mas ainda me lembro

quando no outono cresceram no teu peito

duas alegres laranjas que eu apertei nas minhas mãos

e perfumaram depois a minha boca.

 

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.

não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos

sobre a tua nudez

como uma sombra no deserto.

É apenas este rio que me percorre há muito

e desagua em ti,

porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.

É apenas uma tristeza inadiável,

uma outra maneira de habitares

em todas as palavras do meu canto.

 

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.

tenho feito amor de muitas maneiras,

docemente,

lentamente

desesperadamente

à tua procura, sempre à tua procura

até me dar conta que estás em mim,

que em mim devo procurar-te,

e tu apenas existes porque eu existo

e eu não estou só contigo

mas é contigo que eu quero ficar só

porque é a ti,

a ti que eu amo.

 

Joaquim Pessoa

 

Joaquim Pessoa nasceu em 1948. Poeta, pintor e publicitário, colaborou na revista Vértice e no Suplemento Cultural do Diário de Lisboa. Inicialmente, a sua obra começou ligada à sua militância comunista e à revolução de Abril de 74. Os temas preferidos são o amor e a denúncia social. Foi Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com O Livro da Noite (1982).

 

 

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 21:19
Canção:: Beirut - Pompeii EP
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POESIA É ARTE

 

perguntaram-me

por que

não pões

poemas

nas telas

respondi

a poesia

já é

arte

 

 

Joaquim Alves

in Poemas à Janela

  

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 15:30
Canção:: Aimee Mann - Today
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03
Dez 08

Já aqui temos posto alguma poesia do premiadíssimo poeta espanhol, natural de Valência, Rafael Camarasa. Demos destaque anteriormente ao livro O Sítio Justo, obra vencedora do Prémio Internacional Palavra Ibérica em 2008. Desta feita pegámos no livro de poemas Cromos que saiu em Espanha em 2007, poemário que venceu o VI Premio Paiporta de Creación Poética.

 

 

MEDUSA

 

Senta-se à minha frente, escuta-me com atenção. Dá o seu assentimento ao que digo, ainda que não creia nas minhas palavras. O nadador que arruma a roupa, que ninguém diria que é mau tipo. Poderia interpretar todos os papéis, excepto o de personagem de si mesmo.

 

 

Rafael Camarasa Bravo

(tradução de Tiago Nené)

 

 

PS: para uma micronarrativa de Rafael Camarasa, do seu novo livro Feos, seguir para o Texto-al.

 

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 20:15
Canção:: Coldplay - Amsterdam
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Paulo Gonçalves, director de comunicação da Porto Editora, face ao enorme descontentamento do público, que se sentiu - e com razão - enganado pela loja virtual Wook, pertença da conhecida editora, escreve um comunicado que o Bibliotecário de Babel reproduz dizendo que afinal nunca a  loja prometeu "um milhão de livros". Enfim, se não desse para chorar, daria certamente para rir, pois no site a primeira frase que se podia ler era de facto "um milhão de livros grátis". Mas o pior nem é isso, e Paulo Gonçalves dolosamente não toca no ponto fulcral: o site esteve sempre em baixo e a editora nada fez...

Mera chico-espertice à portuguesa? uma fraude que devia motivar uma queixa às autoridades competentes? Para nós tratou-se da maneira mais económica de promoverem um site novo ainda que à custa de um expediente criticável a todos os níveis. Uma coisa é certa: nunca mais compraremos na Wook.

 

A Casa dos Poetas

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 16:30
Canção:: I believe in Father Christmas - U2
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A PALAVRA FINAL

  

A Palavra final pertence ao Editor

ele tem um secretário da cultura

o Secretário tem um primeiro-ministro

o Primeiro-ministro tem um governo

o Governo tem uma polícia

a Polícia tem armas

 

Eu tenho um poema

o poema é um tirano

recusa assumir compromissos

no sentido estrito da palavra

é a palavra final

 

a neve é azul como uma laranja

 

 

Uma versão do poeta João Luís Barreto Guimarães a partir da tradução em inglês de Nicholas Kolumban

 

ELEMÉR HORVÁTH é um poeta modernista húngaro, considerado um mestre na arte do soneto.

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 09:30
Canção:: Simply the Best - Tina Turner
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02
Dez 08

NATUREZA MORTA COM LOUVA-A-DEUS

 

Foi o último hóspede a sentar-se

no topo da mesa, já depois do martírio.

As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas

por algum vento. Perdera o rumo

sobre a película cintilante de água

no riacho parado. Tal como poisou

junto de nós, com o belo corpo magro

arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,

um santo mártir. Enquanto meditávamos,

a morte sobreveio, e a pequena criatura,

que viera partilhar a nossa mesa,

depois de ter sido banida das águas

foi banida da terra. Alguém pegou

no volúvel alado corpo morto

abandonado sem nexo na brancura da toalha

- que maculava -

e o atirou para qualquer arbusto raro

que o poeta ainda pôde fotografar.

 

FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

ANIMAL ANIMAL

um bestiário poético

Organização Jorge Sousa Braga

Assírio & Alvin

Fevereiro 2005

 

 

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 18:45
Canção:: Coldplay - Trouble
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Luís Serguilha nasceu em Vila Nova de Famalicão em 1966. Poeta e ensaísta, é também autor de diversos textos criativos sobre literatura contemporânea brasileira. Coordena uma academia de actividades físicas e de danças urbanas. Colaborou durante vários anos nas Jornadas de Arqueologia - Investigação da Cultura Castreja e foi um dos pioneiros das "Bibliotecas de Jardim". Obteve o prémio de literatura Poeta Júlio Brandão. Publicou, entre outros livros de poesia, O Périplo do Cacho, O Outro, Embarcações, O Externo Tatuado da Visão, Lorosa’e Boca de Sândalo, O Murmúrio Livre do Pássaro, A Singradura do Capinador e Hangares do Vendaval. Publicou ainda o livro de de narrativa Entre Nós.

 

HANGAR 7

 

                                             A águia da cicatriz funda o redemoinho da fronteira para aventurar-se nos quarteirões-bombeiros da púbis guerreira

                                 e os selos dos fluxos hospitalares estendem as odontíases dos historiadores de elefantes nas escadas lapidadas

                                               das vinhas mais próximas dos reclames oviformes das docas industriais

                      onde os mortalhas de cobalto-baptismal restauram a culinária dos estúdios mímicos

                                     sobre as ultimas transferências das incrustações solares 

As nadadoras de calendários-fósseis maceram os sombreados dos parapeitos 

                                       onde a secretária delinquente do silêncio emaranha-se

                          numa constelação de olhos-diamantes

                                                          prestes a crescer na pausa do hotel-látego

                      que singelamente tropeça no utensílio da astronómica masseira

                                                                                    dos autocarros pintalgados pelas virilhas dos helicópteros universais 

 

Todos juram que viram um longo piano de chuva asilada

      na diligência espiralada dos cirurgiões de trópicos  e os pássaros cientes dos turistas de estaleiros fornicadores

                                                                    ornamentam os catálogos narcóticos

         com as guloseimas das serpentes entremeadas de louças-trompas-radioactivas

                  onde os abdomens-acervos das radiofonias

                                constroem gaiolas espadaúdas com as lâmpadas ensanguentadas

                         pelas tarifas ocasionais das trepadeiras

Todos examinaram as frinchas dos telefones de chocolate

                 para consagrarem a solidão das carruagens nos volumes dos superintendentes naufragados

                                           sobre o palanque lacrado no pedigree da arteriosclerose

Depois derramaram claramente

                                                  o peitilho das ferramentas telegráficas

                      nos andamentos da geologia inominada onde as falangetas da exausta porta reinventam as máquinas convulsas

                        das estrelas sobre o abismo mandibular das borboletas-conexões

 

A clavícula-violino do vendaval ressurge embalsamada na gula compassiva dos gestos-URANÓLITOS como as varandas PRECIPITADAS dos peixes a ocultarem o vocabulário das cordilheiras na dilatação dinâmica das salas agrícolas

                     Um tubo assustadoramente vegetal incandesce as homenagens das caligrafias cabalísticas enroscadas no vapor das calosidades dos bois

e o mergulhador de camisas de electricidade regressa hidrópico de molas da claridade

         porque as gemas das feras pincelam  lunarmente

                  os gladíolos das colmeias (DAS CURTAS

                  METRAGENS-CARROSSEL LANCELOLADO ENTRE A DESFLORAÇÃO DO MAPA-MUNDI)

 

As munições progenitoras dos vestíbulos da menstruação RUTILAM

                       as lavadeiras dos damascos pulmonares     

                 (alfarrobeira pluriaberta nos translúcidos talentos dos holofotes maternais) 

As descrições das auto-entrevistas dos seios cavalgam milimetricamente

                          ao absorverem as picadas aguacentas dos animais

                    defendidos

          pelo desenho disfarçado dos pulsos esvoaçantes

 

(AS ROCAS dos insectos peregrinos se desmoronam silenciosamente

            entre os pavios das fístulas dos computadores)

 

A pontaria solitária dos excrementos das luzes retalha os mecanismos

                              das leitosas paredes historiando a nomeação da emergência dos torvelinhos

                         Parecem os compassos das pálpebras a resplandecerem

                      no café dos pequeníssimos abismos onde os silenciadores das pulsações emigram diversamente

                                                 entre os ziguezagues das lâmpadas das sombras

                         como a evaporação da insonolência dos vendedores a sorver as sardas transparentes das braçadeiras-glosadoras dos uivos

A erupção dos dormitórios-húmus pressente os brincos dos epiciclos

                       que dependem dos ovários crescentes das lágrimas aeroportuárias

 

(UMA cova de manta QUADRICULADA

           a inclinar-se nas térmitas das catanas mutiladas

               pela sinalização do sémen dos itinerários sonambúlicos

como se o marulhar da ancianidade dos tambores fosse o manancial inesgotável dos cães PISTEIROS

como se o silvo das costureiras das fanfarras esqueléticas esquadrinhassem    as braçadas do relâmpago(AÇUCAR-PROFUSÃO) deserdado ocasionalmente na bebedeira das serpentes

como se os lábios dos peixes das sílabas acumulassem as garras

                         dos pirilampos nucleares nas navalhas desarrumadas dos neurónios-celeiros 

como se as poeiras altivas dos lubrificadores de fendas estilísticas interrogassem os acordeões das rosas-teatro concentradas

                       nas auto-estradas hipnóticas dos rostos)

 

 

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postado pelo Casa dos Poetas às 09:30
Canção:: Yes We Can - Barack Obama Song
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